Rússia num ponto de não retorno? Exército está cremando soldados para esconder mortes na Ucrânia

Publicado por: Miken
02/03/2022 15:21:17
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Vitaly V. Kuzmin / Wikimedia
Vitaly V. Kuzmin / Wikimedia

Há famílias russas em choque por descobrirem, através de vídeos publicados pelas autoridades ucranianas, que soldados seus familiares, estão a lutar na Ucrânia.

 

Com a economia russa ruindo, um político opositor de Putin anuncia que o exército russo tem “crematórios móveis” para esconder a morte de soldados.

 

A guerra na Ucrânia também é uma guerra de contra-informação e de propaganda. A Rússia tem-se empenhado em esconder o máximo de informação possível dos seus cidadãos.

 

Alguns soldados não saberiam, inclusive, que iam combater na Ucrânia. Além disso, as suas famílias também não terão conhecimento de que os seus entes queridos estão nos combates no país vizinho.

 

Este dado é confirmado ao jornal britânico The Guardian por familiares de soldados russos que reconheceram os seus entes queridos em vídeos e fotos divulgados pela Ucrânia, com os homens que terão sido capturados no âmbito da invasão do país.

 

O ministro do Interior da Ucrânia criou o site 200rf.com para ajudar as famílias russas a encontrarem os seus familiares feridos ou mortos nos combates.

 

Além disso, lançou também uma linha telefónica de emergência e um canal no Telegram denominado “Find Your Own” [algo como “Encontre os seus”].

 

No site e no canal da app de mensagens, a Ucrânia tem partilhado imagens de soldados russos, dos seus documentos e dos cadáveres dos que terão morrido nos confrontos, bem como vídeos onde se dirigem aos seus familiares.

 

O nome do site reporta para o termo “Cargo-200” que foi usado pelos militares soviéticos para recuperar os cadáveres dos que morreram na guerra no Afeganistão, na década de 1980, e que foi particularmente trágica para a então União Soviética.

 

Os soviéticos lutaram durante 10 anos no Afeganistão, saindo derrotados pelos mujahidin que tinham o apoio dos EUA.

 

É, portanto, uma provocação aos russos e também faz parte de uma estratégia que passa por lançar mais pressão sobre a Rússia. A mensagem para as famílias russas é que podem “procurar os seus entes queridos que Putin mandou lutar” no país vizinho, conforme palavras do ministro do Interior ucraniano.

 

Assim, é também uma forma de atiçar os russos contra Putin que é apontado como o único e grande culpado por esta guerra pela Ucrânia e por boa parte da comunidade internacional.

 

Jovens soldados “como carne para canhão”

Nestes vídeos divulgados pelos ucranianos, algumas famílias russas têm sido surpreendidas com a descoberta familiares.

 

“Fiquei completamente chocada. Não sabia que ele estava a combater lá“, conta ao The Guardian Yelena Polivtseva, irmã de um soldado russo que terá sido capturado pelos ucranianos.

 

“Sabia que o Leonid estava no exército, mas não tinha ideia de que tinha sido enviado para a Ucrânia. Não penso que ele estivesse ciente disso também“, aponta ainda Yelena.

 

Esta russa recusa-se a criticar a invasão em si, mas está certa de que “ninguém precisa disto, nem a Ucrânia, nem a Rússia”, e apela a que se chegue a “um acordo por meios pacíficos para que os nossos filhos, irmãos e maridos não morram”.

 

Mas, sob a capa do anonimato, recusando dar a sua identidade, há quem lamente que “os jovens estão a ser lançados como carne para canhão”, sem entender as justificações para esta guerra, mas insinuando que serve para pagar os “palácios” de Putin.

 

“Não há guerra. Não há mortes. Não há túmulos”

A Rússia tem em marcha uma campanha de propaganda para controlar o que é noticiado sobre a guerra – os media, por exemplo, estão proibidos de usar o termo “invasão”.

 

Oficialmente, o Governo de Putin fala de “uma operação especial” para manter “a paz” e a segurança das regiões ucranianas separatistas e pró-russas.

 

O Kremlin também tem omitido dados sobre as suas baixas na Ucrânia e sobre eventuais soldados capturados.

 

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anunciou que terão morrido, em seis dias de guerra, cerca de 6000 soldados russos. Mas esse dado não está confirmado.

 

O político russo Lev Shlosberg, elemento do partido Yabloko da oposição a Putin, já denunciou que o exército russo usa “crematórios móveis” para destruir quaisquer evidências de mortos russos na Ucrânia

 

Não há guerra. Não há mortes. Não há túmulos. As pessoas, simplesmente, não vão ser mais. Para sempre”, escreveu no seu blogue, como cita o The Moscow Times, meio de informação independente.

 

“Mesmo que a paz seja alcançada, o dano está feito”

No meio disto tudo, os efeitos das sanções económicas já se começam a sentir na Rússia e as pessoas estão a ficar desesperadas com a desvalorização do rublo. Nos últimos dias, tem havido uma corrida aos multibancos para tentar levantar dinheiro enquanto não desvaloriza ainda mais.

 

É “uma crise que nunca experimentamos antes”, confessa ao The Guardian o executivo de uma empresa de publicidade que vai deixar a Rússia, para se instalar na Arménia, deixando 100 trabalhadores no desemprego.

 

“É como voar num avião sem motores ou com os motores a arder”, lamenta.

Esta empresa tinha contratos com multinacionais como a Pepsi e a Volkswagen e tinha atingido, em Janeiro deste ano, um recorde de lucros, mas sofreu uma queda abrupta com a retirada das marcas do mercado russo, aponta o jornal britânico.

 

E, nesta altura, acumulam-se os receios e as dúvidas sobre o que virá a seguir.

Não temos a mínima ideia do que [Putin] vai fazer a seguir. Ninguém na comunidade empresarial tem a menor ideia. Toda a gente está tão deprimida”, lamenta ao The Guardian outro empresário da área alimentar.

 
 

Já não vejo luz ao fundo do túnel. Mesmo que a paz seja alcançada, o dano está feito. Como reverter isto?”, questiona ainda este empresário.

 

“Já não somos membros da comunidade internacional”

Também os oligarcas russos, alguns bem próximos de Putin, começam a dar sinais de desconforto, nomeadamente com medidas internas como o aumento das taxas de juros, a venda obrigatória de moeda estrangeira e a proibição de transferência de dinheiro para o estrangeiro.

 

Roman Abramovich, o milionário russo dono do Chelsea que é muito próximo de Putin, já está directamente envolvido nas negociações de paz.

 

Um porta-voza de Abramovich confirmou que o magnata “foi contactado pelo lado ucraniano para apoiar uma possível resolução pacífica, e que tem tentado ajudar desde então”.

 

Contudo, o que parece evidente a muitos homens de negócio russos é que se chegou a um ponto de não retorno.

 

“Deixamos o comunismo há 30 anos, acostumamo-nos a ter muitos confortos que também se veem no Ocidente. Todo esse progresso pode desaparecer. Já não somos membros da comunidade internacional”, queixa-se, também em declarações ao The Guardian, um empresário que detém restaurantes e empresas de turismo.

 

Por   Susana Valente, Originalmente Publicado por: Planeta ZAP //

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