DEPOIMENTO: ‘Sabemos que dentro de uma emergência, tudo é urgente’

Publicado por: admin
17/08/2018 12:31:44
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Catalina Sampaio, de 25 anos, trabalha desde 2014 para o ACNUR, atuando como assistente de proteção em Boa Vista. Foto: ACNUR
Catalina Sampaio, de 25 anos, trabalha desde 2014 para o ACNUR, atuando como assistente de proteção em Boa Vista. Foto: ACNUR

"Grande parte da minha família foi refugiada por motivos de perseguição política na América do Sul. A proteção internacional foi fundamental para que eles conseguissem se reestruturar. A experiência vivida por eles é a minha maior inspiração para trabalhar na área humanitária, sobretudo na área do refúgio. Para mim, é muito importante poder proporcionar proteção para as pessoas que estão em uma jornada parecida a essa que marcou a minha família.

 

A população com a qual trabalhamos, ou seja, as pessoas em situação de refúgio, geralmente em um primeiro momento se encontram em situação de extrema vulnerabilidade e precisam receber uma assistência direta. É extremamente gratificante perceber que elas conseguiram se restabelecer. Que já se sentem mais fortes, e conseguem caminhar sozinhas, pois já têm as ferramentas necessárias para isso. Fico muito feliz quando eles já conseguem se cuidar e me procuram para dizer “olha, eu estou me cuidando, eu estou bem e eu estou seguindo o meu caminho”.

 

É muito desafiador quando não conseguimos atender, de maneira individual, todos os casos que chegam até nós. Muitas vezes nos deparamos com uma situação onde há simultaneamente um caso de alto risco e outro de médio ou baixo, e nós não conseguimos responder todas as demandas de forma imediata. É necessário fazer um filtro sobre o que necessita ser resolvido em menos de 24 horas e o que pode esperar até 72 horas. Sabemos que dentro de uma emergência, tudo é urgente. Entretanto, a parte mais difícil do trabalho é identificar e priorizar as urgências.

 

Foi o caso da situação do aumento do fluxo de venezuelanos em Boa Vista. Nossa ação para identificar esses perfis começou na praça Simon Bolívar, onde vivia a maior parte dos venezuelanos que chegavam a Boa Vista e não tinham para onde ir. De lá, conseguimos encaminhar todas essas pessoas de forma segura para o novo abrigo. Oferecer proteção para tantas pessoas de uma só vez foi muito gratificante. O melhor dia para mim foi quando, em maio deste ano, estabelecemos o abrigo Jardim Floresta, o primeiro aberto depois da federalização da resposta, onde foi possível abrigar e oferecer segurança para cerca de 600 pessoas que estavam vivendo em situação de rua e extrema vulnerabilidade. Nós realocamos, de maneira voluntária, famílias com crianças, mulheres sozinhas, idosos, homens em situação de risco, entre outros.

 

Tem alguns momentos mais difíceis durante alguns dias. E esses momentos geralmente ocorrem quando temos que priorizar alguns casos e deixar para depois aqueles que podem esperar mais um pouco. Frequentemente, nos vemos em uma situação onde é necessário avaliar os perfis de vulnerabilidade, identificar quem vamos acolher primeiro para que seja possível garantir segurança de maneira emergencial. Para mim, a pior parte é quando temos que dizer 'ainda não'".

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