Em Brasília, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) e instituições parceiras apresentaram na quarta-feira (16) o Manual de Comunicação LGBTI+. Publicação orienta jornalistas e estudantes da área a adotar novos conceitos e terminologias, a fim de eliminar a discriminação na linguagem da mídia. Lançamento ocorreu no Senado Federal, na véspera do Dia Internacional contra a LGBTIfobia, lembrado em 17 de maio.
Elaborado pela Aliança Nacional LGBTI e pela Rede Regional GayLatino, com o apoio do organismo da ONU, o guia também buscar melhorar o entendimento de termos que são recorrentes entre gays, lésbicas, bissexuais, pessoas trans e intersexo, mas que podem não ser usuais no dia a dia de profissionais e alunos de Comunicação.
“Iniciativas como esta que estamos lançando tem como papel lembrar que vivemos em uma democracia, mas que infelizmente ela ainda não é integral para todos”, disse Georgiana Braga-Orillard, diretora do UNAIDS no Brasil, durante a audiência pública da Comissão de Direitos Humanos onde o documento foi divulgado.
“Nós ainda temos 18% de infecção por HIV em jovens gays, mais de 30% de infecções em mulheres trans, o que quer dizer que ainda não atingimos todas as pessoas como deveríamos. As palavras têm um peso e significado, e acabar com as desigualdades começa pelo respeito às pessoas desde o seu nome até os seus direitos.”
Além da capital federal, o manual também foi lançado em Curitiba (21/5), no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná, e em São Paulo (22/5), no Novotel São Paulo Jaraguá, e em Maceió (25/5), na Assembleia Legislativa de Alagoas.
A primeira parte da publicação traz definições e conceitos sobre as pessoas LGBTI+ — lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexuais e outras identidades de gênero e sexualidade não contempladas na atual sigla adotada, representadas pelo “+”. Em seguida, o manual aborda alguns dos principais pontos de inflexão históricos envolvendo a população LGBTI+, inclusive os avanços mais recentes em termos de reconhecimento dos direitos desta população no Brasil e no mundo. Também são discutidas as lacunas ainda existentes para alcançar a cidadania plena. A publicação informa sobre termos a serem evitados e sobre qual é a terminologia adequada para lidar com questões relevantes, como HIV e AIDS, estigma e discriminação.
“Esse manual reflete a diversidade da nossa sociedade e pretende ser um manual prático para ajudar no cotidiano de qualquer pessoa que queira compreender mais sobre a temática LGBT”, explica Simón Cazal, secretário-geral da Rede Regional GayLatino. “Nossa ideia é contribuir para eliminar a linguagem que alimenta a discriminação.”
O manual é resultado de um trabalho conjunto. Através de uma consulta pública com duração de dois meses, foram aproximadamente 300 sugestões e colaborações de especialistas, militantes, ativistas, associados das organizações envolvidas, autoridades públicas, professores, estudantes e profissionais de Comunicação. A obra é inspirada em manuais de comunicação LGBTI+ de organizações como a SOMOSGAY, do Paraguai, a Colômbia Diversa, a GLAAD, dos Estados Unidos, e a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT).
Diversas parcerias foram importantes para a organização e divulgação do material, entre elas, com a organização paraguaia SOMOSGAY, em colaboração com o Fundo Robert Carr, a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SINDIJOR-PR), o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Associação Brasileira de Famílias Homotransafetivas, a Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, o Grupo Arco-Íris do Rio de Janeiro, o Instituto Brasileiro de Diversidade Sexual (IBDSEX) e a Comissão Especial de Diversidade Sexual do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
O manual também contou com a parceria do UNAIDS. A diretora do programa da ONU no Brasil assina o prefácio da publicação.
“Queria agradecer o apoio do UNAIDS no Brasil no lançamento desta publicação. Infelizmente, o número de casos de HIV ainda aumenta entre a nossa comunidade, principalmente entre jovens”, lembrou Toni Reis, diretor presidente da Aliança Nacional LGBTI.
Na ocasião, reiterando a importância do Dia Internacional contra a LGBTIfobia, Reis também respondeu à pergunta feita por um internauta durante a transmissão da audiência pela internet: “nós precisamos destas datas, pois ainda temos problemas, queremos visibilidade e não vamos voltar para o armário".
Presidida pela senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), a audiência pública teve a participação também de Atanásio Darcy Júnior, membro do Grupo de Identidade de Gênero e Cidadania e representante da Defensoria Pública da União; Bruno Crepaldi, representante do Banco Itaú Unibanco; Simón Cazal, secretário-geral da Rede Regional GayLatino; Ananda Puchta, coordenadora de Organismos Internacionais em Direitos Humanos do Grupo Dignidade e membro da Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da OAB-Paraná; e Irina Bacci, representante do Coletivo de Feministas Lésbicas de São Paulo.
Acesse o Manual de Comunicação LGBTI+ clicando aqui.
Eventuais sugestões de melhorias, inclusão ou exclusão de texto, bem como críticas, podem ser encaminhadas para o e-mail aliancalgbti@gmail.com, para análise pelo Grupo de Trabalho e incorporação nas próximas edições.
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